Quando eu voltar à Recife
A passeio, certamente
Já não estarão lá
Aquele braço de rio
O pedaço do mar
Ou até mesmo o velho sobrado
Onde morou alguém que
nos lembrava a memória da cidade
Não teremos referências
Acometidos seremos pelo esquecimento provocado
Agressivamente imposto a crianças, jovens e idosos
Esses últimos, talvez, sofrerão menos
Pois piedosamente a vida apagará as suas lembranças
E, aparentemente, nada lhes terá sido usurpado
Nomes ilustres sitiarão o novo Recife
Moura Dubeux
Queiroz Galvão
E de nobre figurão que por livre e espontânea bondade
Doou para as últimas eleições uma bagatela
Em benefício da sua idealizada cidade
A Recife será outra, alheia, estranha
Onde muitos livros de fotografias antigas serão vendidos
Cidade futurista
De habitantes desabitados
Para modernas construções
Com empresariais e shoppings em profusão
Todos edificados para os cidadãos assaltados
Que os larápios julgam sedentos de consumo
Dirão as más bocas que o Recife velho foi cidade
De gente fissurada em movimentos, atos, resistências
Lugar onde só a rebeldia aplacou tamanha agressão
E as ruas dos principais leiloeiros foram ocupadas
Por milhares de subversivos
Só que nenhum deles saiu na televisão.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Contribuições