“O destino de uma mulher é ser mulher” Clarice Lispector
Como não ser mulher?
Não essa mulher pronta
Das revistas, fotografias
Uniforme, agredida ou imaculada
Sempre retocada em photoshop
Não a mãe, purificada
A esposa escravizada
A amante exibida
A filha, bonequinha
Como não ser a mulher
Que bate cartão na firma
E ponto na esquina
Com um só fim, hein? Hein?
Me diga você, meu bem!
Me diga o que elas têm?!
Como não ser a mulher
Da mocinha ou do rapaz
E gostar de passar batom
De mudar o colorido do tom
Sem desejar ser modelo
Sem se vidrar num espelho?
Como não ser mulher que desconhece
A flor que entre as pernas traz
E não saber de seu próprio cheiro
E não se alegrar do prazer que isso lhe faz?
Como não ser mulher pronta pra luta
De quebrar a boa conduta
E se empoderar da palavra não
Não aceito
Não me agrada
O respeito é o que quero
Como é ser mulher
Sem certidão
Ou documento que comprove
Eu mulher
Eu só, acompanhada
Eu minha amante, amada
Inteiramente mulher para mim?
Como ser mulher assim
Nesse mundo regulador
Da minha dor
De meu amor
De meu pudor
Do que penso pra mim?
Direi, a todos, então
Destinada a sê-la sou
A mulher que me salvou
De toda má educação
Que me tirou, no passado, o pão
Os direitos e o poder
O acesso ao saber
O que me dou sem contenção
Direi mais, já que aqui estou
Mulher eu sou, destinada assim
De saber-me e entender-me
Mulher até o fim
A mulher que se quer ir
Para além, muito além de mim.
Garanhuns, 7 de março de 2014.
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