terça-feira, março 29, 2011

FILOSOFIAS DA MADRUGADA II


Estive pensando sobre a contraditória missão do escritor, poeta, cronista, contista, do artista que nasceu não para pirar de vaidade, não para pisar e apagar o “colega”, mas do que com seu dom expressa-se para fazer da arte um meio de denunciar as falhas do sistema, de enaltecer algo que precisa ser percebido, que faz da sua arte instrumento coletivo e não somente um degrau exclusivamente particular para ascender rumo a um lugar que poucas pessoas vão reconhecer, geralmente as pessoas medíocres que galgam o mesmo espaço.

Essa é a luta do artista, se fazer ouvido, lido, notado, para entenderem sua mensagem, contrariando o pseudo-artista que usa a arte para fins pessoais e politiqueiros. Sou uma felizarda de não necessitar da arte para pagar minhas contas, assim não corrompo meu dom - nada contra quem vive só da arte, mas sim, muitos artistas além de se tornarem um fosso de vaidade corrompem seu dom e perdem sua dignidade. Uma pena.

Idealista – para muitos “de merda” –, estou entre os escritores que não tiram proveito das oportunidades com esperteza. Não escondo meus textos nem os guardo para tão somente publicá-los em livro numa publicação particular para um grupo escolhido a dedo. Meus textos eu compartilho. E tenho a oportunidade de trocar dessa forma – sem barganhas – algumas palavras com hermanos que, como eu, veem na Literatura algo mais que o seu próprio rabo.

Sobre a necessidade do escritor que para ser lido precisa publicar, conheço alguns escravos da arte que vivem assim, é verdade. Porém existem os artistas que não são escravos de sua arte e sim do sistema. Têm de se fazer constantes, lançar novo livro, produzir com vigor (e muitas vezes com menos amor e mais dor), e existem os artistas que nada estão produzindo, mas para não sair de evidência e para se manter no topo apagam a existência dos demais, porque são demais para eles, para a mediocridade de sua humanidade abalada pela falta de desapego. É, a palavra de ordem hoje é essa, desapego.

E nós, que publicamos sem apego, algum dia, teremos de começar a rever os nossos conceitos, se quisermos ser “livros” e assim lidos, ou nos eternizaremos nos espaços virtuais com nosso público longe dos holofotes da elite artística que se anuncia. Teremos de elogiar e rasgar seda para muitos autores, até os que não lemos e não apreciamos para cair em suas graças, ou continuaremos nos mantendo virtuais e coerentes com nossas práticas, nossos gostos, nossas crenças.

A hombridade no meio artístico não tem preço e quando existe é elemento raro, raríssimo. Desse modo, a arte fica sempre na corda bamba. Capengando. A ética quase sempre escorre para o esgoto, principalmente pelas ruas dessa nossa cidade fedorenta e inegavelmente linda.

Então, chego à seguinte conclusão: a sala de aula ainda é o ambiente mais propício para a educação e formação do povo, e a internet o espaço mais democrático e transparente para se fazer arte.

Continuo a praticar o desapego. E você, quer exercitar o seu?



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