quinta-feira, julho 31, 2014

BRADO SILVÍCOLA

Imagem: Carol Cordeiro
 


Luz, água, ruas asfaltadas

diz o anúncio na estrada

trago o mar de novo nos pés

e meus olhos avançam

muito além da sujeição

uma voz me diz num só golpe:

mais uma vez

 

Cuidado com a Literatura

que não está nos livros

com os artistas que não vão

para a televisão

e que não servem a um patrão

 

Cuidado com os poetas loucos

Cuidado com os gritos!

Com os famintos e os inquietos!

Com as degradadas

As PUTAS

As libertadas

E os amores invisibilizados
 

Cuidado, vocês,

que ainda não acordaram

para o sonho da insensatez

para a combustão do pensamento

Acelerado

Inquieto

Utópico

Manifesto

Marginal
 
 
Plural
 
 
Anárquico ?!

Revolucionário ?!
 

Avesso deste mundo paralelo

Em que os cegos se refestelam

Em meio a esta ilusão!!!

 

ONDE ÁRVORES SAGRADAS SÃO ARRANCADAS !!!

ONDE MONSTROS DE CONCRETO SÃO REVERÊNCIAS !!!

ONDE OS RIOS SÃO ATERRADOS

E A TERRA É LAVADA EM SANGUE

NEGRO !
 
BRANCO !
 
ÍNDIO !

Banhada em indecências

 

Onde os suicídios prosperam !

Onde o povo é apagado !

Onde a história é silenciada !

Onde a beleza existe pra turista ver...

 

VER O QUÊ?!

EU TE DIGO!

EU TE GRITO !!!

 

Ver o sinal da cruz

E ouvir a oração

A um Deus que nada pode fazer

Da ganância e egoísmo desses homens

Dessas mulheres

Que fecham os olhos antes mesmo de morrer!

Mortos-vivos!!!

E o zumbi herói, dele o que se há de fazer?!

 

A resistência de seu povo se perde

No cinturão da pobreza que engrossa

Na canção e embalo de sua glória que não se dança

Que não se sabe

Que não se lembra

 

Louvamos a quem?!

Se à natureza não devotamos amparo

Se não clamamos todo o nosso legado?

 

Eu sou as árvores assassinadas !

Eu sou as putas apagadas !
 
 
Eu sou as meninas estupradas !

Sou sangue negro, branco, índio!
 
Eu sou corpo, voz e espírito !

 
 
Eu sou Robert Kemper !

Eu sou Enilda Cordeiro !

Eu sou Antônio Petrônio !

***

Eu sou Felipe Puxirum

Eu sou Mac Washi

Eu sou Sandoval Ferreira

Eu sou Maciel Viana

Eu sou Cesar Monteiro
 
Eu sou Marcos Saraiva

***

 
EU SOU MÁRCIA MARACAJÁ

SOU A TERRA ONDE PISAM OS MEUS PÉS

O HORIZONTE ONDE MEUS OLHOS PODEM ALCANÇAR

EU SOU A VOZ QUE ME GRITA OUTROS GRITOS

 

E SOU TODO ESTE BRADO SILVÍCOLA !!!

 

*** 
 
Parte do texto acima foi performatizado na 3ª Mostra PE da Produtora Nós Pós, entrando na Chegança Poética do Literânima, compondo a programação da Praça da Palavra no FIG 2014.
 
O texto de cunho político-social fala de uma resistência que o nosso planeta tem vivenciado, e a terra pulsante num chamamento sagrado convoca seus filhos para reinvindicar seus direitos.
 
Performatizar esse poema foi uma experiência indescritível, que só quem esteve lá pode ter dimensão. Por isso, mais uma vez, agradeço a todos os presentes pela energia doada ali, para sentir a poesia e todo o seu poder.
 
Para mais detalhes desse momento, com um outro olhar, acesse a página Portal da Cultura (aqui), da Fundarpe, e leia o texto de Julya Vasconcelos. Visite  também a página da Nós Pós Mostra PE(aqui) no facebook.

Grata ao Literânima, na pessoa de Marcia Felix e de todos que dele fazem parte, pelo convite para a Chegança Poética, onde estive junto aos meus irmãos Puxirum, Washi, Sandoval Ferreira, Maciel Viana, Cesar Monteiro e Marcos Saraiva em poesia.

E à produtora Nós Pós, minha crença no trabalho lindo que realizam cada vez mais fortalecida. Meu muito obrigada. Parte de minha alma segue com vocês sempre onde estiverem.

E, por fim, um agradecimento especial a Myrna Maracajá, que trabalhou na arte do figurino. Foram mais de 7h ininterruptas pintando a pele que me cobria. Myrna, você sabe o quanto sua arte fez  diferença nessa performance. Tinha de ser você a traçar os grafismos em mim inscritos... Muito obrigada,  minha irmã.

 


 

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