domingo, junho 16, 2013

CORAÇÃO BIFURCADO



Passei anos para conquistar o que só em Garanhuns consegui, e quando estava lá, mesmo tendo tudo o que fui buscar, a saudade do mar, do que tive aqui, me fez juntar tudo e num vento fui carregada de volta.

Hoje, tão próxima do mar, não piso em suas areias, não vejo o sol nascer e se pôr. Eu lembro do mar distante, avistado do alto da colina de Heliópolis, e do pôr do sol da varanda de Mika e das janelas de minha casa, de onde eu avistava todas as colinas da cidade, o campo...

Sim, eu tinha um mar lindo de montanhas diante de mim, lá longe, e eu o deixei por todas essas águas daqui de onde me encontro, rios e mar, que tenho atravessado sobre pontes, e nessa correria nem sequer tenho apreciado, minha Recife ainda tão longe de mim.

Saudades da neblina matinal  e noturna de Garanhuns, que estas tardes chuvosas da Capital pernambucana tem trazido para a paisagem que se estende lejos, entre prédios e construções infindáveis, incontáveis. Minha filha me chama da varanda, estou no quarto.  Envolve meus braços em torno dela, e pergunta: “Num lembra a neblina de Garanhuns, mamãe? Olha...” E em silêncio, ficamos contemplativas, pensando na neblina e no que tivemos lá e pra cá não trouxemos, porque aqui não cabe... “não cabe no poema”. Gullar preconizava tudo isso, minha filha, pensei eu.

Meu coração dividido. Bifurcado. O que vivi lá, do que existe ali eu não trouxe, não trago comigo, porque só lá é possível viver. E aqui, como desfrutar dessa cidade, desse berço, de sua história e memória, Recife, Olinda, Jaboatão, por que não?  O que obstrui esses caminhos tão livres em  minha lembrança, que para onde quer que eu vá esbarra em obstáculos que inviabilizam minha passagem? Estou presa, eu que tanto busquei a liberdade.

Então, lembro dos voos que fiz em Garanhuns, das paisagens que deslumbrei pelas estradas, nos arredores, do alto de cada cume de colina visitada. Do silêncio e da paz encontrada, recomeço para seguir. A UAG, o que pude ali aprender, conhecer, contribuir. Os amigos que plantei, dos que mal pude me despedir.
Eu voltei, não sei, não sei... muitas vezes estou aí.

 

Um comentário:

  1. Garanhuns foi um oásis apenas, como qualquer outro lugar de se parar, planejar, sonhar e viver de verdade... não sobreviver.
    Daqui até onde a vista alcançou, de cima de qualquer telhado, a brisa fria trouxe a possibilidade de acreditar que tudo pode acontecer, quando se quer de coração, quando se tem ao lado uma fortaleza divina. Daqui deu pra se vê o que é realmente a liberdade: um estado de espírito.
    Agora é hora de perceber que não importa o lugar, com prédios ou colinas, o voo de um passarinho pode ser perfeito e alto em qualquer ninho que o coração se conforte e se aconchegue. Problemas infelizmente vão sempre estar presentes, mas se estiveres bem consigo mesmo, eles (os problemas) sempre se vão.

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