Passei anos para conquistar o que
só em Garanhuns consegui, e quando estava lá, mesmo tendo tudo o que fui
buscar, a saudade do mar, do que tive aqui, me fez juntar tudo e num vento fui
carregada de volta.
Hoje, tão próxima do mar, não
piso em suas areias, não vejo o sol nascer e se pôr. Eu lembro do mar distante,
avistado do alto da colina de Heliópolis, e do pôr do sol da varanda de Mika e das
janelas de minha casa, de onde eu avistava todas as colinas da cidade, o
campo...
Sim, eu tinha um mar lindo de
montanhas diante de mim, lá longe, e eu o deixei por todas essas águas daqui de
onde me encontro, rios e mar, que tenho atravessado sobre pontes, e
nessa correria nem sequer tenho apreciado, minha Recife ainda tão longe de mim.
Saudades da neblina matinal e noturna de
Garanhuns, que estas tardes chuvosas da Capital pernambucana tem trazido
para a paisagem que se estende lejos, entre prédios e construções
infindáveis, incontáveis. Minha filha me chama da varanda, estou no quarto. Envolve meus braços em torno dela, e pergunta: “Num
lembra a neblina de Garanhuns, mamãe? Olha...” E em silêncio, ficamos
contemplativas, pensando na neblina e no que tivemos lá e pra cá não trouxemos,
porque aqui não cabe... “não cabe no poema”. Gullar preconizava tudo isso,
minha filha, pensei eu.
Meu coração dividido. Bifurcado. O
que vivi lá, do que existe ali eu não trouxe, não trago comigo, porque só lá é
possível viver. E aqui, como desfrutar dessa cidade, desse berço, de sua
história e memória, Recife, Olinda, Jaboatão, por que não? O que obstrui esses caminhos tão livres em minha lembrança, que para onde quer que eu vá
esbarra em obstáculos que inviabilizam minha passagem? Estou presa, eu que
tanto busquei a liberdade.
Então, lembro dos voos que fiz em
Garanhuns, das paisagens que deslumbrei pelas estradas, nos arredores, do alto
de cada cume de colina visitada. Do silêncio e da paz encontrada, recomeço para
seguir. A UAG, o que pude ali aprender, conhecer, contribuir. Os amigos que
plantei, dos que mal pude me despedir.
Eu voltei, não sei, não sei... muitas vezes
estou aí.
Garanhuns foi um oásis apenas, como qualquer outro lugar de se parar, planejar, sonhar e viver de verdade... não sobreviver.
ResponderExcluirDaqui até onde a vista alcançou, de cima de qualquer telhado, a brisa fria trouxe a possibilidade de acreditar que tudo pode acontecer, quando se quer de coração, quando se tem ao lado uma fortaleza divina. Daqui deu pra se vê o que é realmente a liberdade: um estado de espírito.
Agora é hora de perceber que não importa o lugar, com prédios ou colinas, o voo de um passarinho pode ser perfeito e alto em qualquer ninho que o coração se conforte e se aconchegue. Problemas infelizmente vão sempre estar presentes, mas se estiveres bem consigo mesmo, eles (os problemas) sempre se vão.