sexta-feira, maio 14, 2010

O CHÁ


1 limão cortado em pedaços. 1 limão espremido. 5 dentes de alho esmagados. 1 xícara e ½ de água. Misturar tudo e colocar em fogo alto. Como uma gueixa ela fazia o chá sempre que ele vinha da rua com a garganta inflamada. Deitava-se, com ares de moribundo no sofá – de casa, do trabalho, de onde quer que fosse – e fazia o seu charmezinho de criança carente de atenção. Mesmo depois de ter virado a noite ao avesso, e ter engolido fumaça no meio dos festejos, na ausência dela.

No último chá ela mudou a receita. Acrescentou 1 pitada de sal. Pimenta das brabas. Escarrou no líquido com gosto de se ver. E, para finalizar, buscou na gaveta o óleo de rícino guardado para a ocasião. Mergulhou 2 colheres dele bem cheias ao chá, e aquilo lavou sua alma. Arrumou a melhor xícara de porcelana que tinham, no pires colocou 2 pedaços de canela em pau, para dar aroma, e embelezou a bebida com uma folha de hortelã.

Ele agradeceu o cuidado da mulher. “Filha, mulher igual a você não há”. E engoliu o chá a um só tempo. Dele não teve reação. Nem ela esperou por isso. O rabo preso sempre a colocava em vantagem e ele acatava a tudo emudecido. Assim, ele amargou sua última mentira que ela tratara de eliminar com o gostinho da certeza das coisas, que só as mulheres possuem.

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