sábado, novembro 17, 2018

SARRO



(...)

E, furtivamente, os dois se encontravam. E trocavam carícias. Pontas dos dedos se esbarrando, intencionalmente, na troca de papeis, documentos... sobre as roupas. As partes queimando e latejando.Olhos pedintes.
Como adolescentes, descobriam-se. Escondidos revelavam-se. E, mesmo famintos, poupavam o desejo, apreciando o sabor instingante do iminente flagrante.
Os beijos molhados e mordiscados nela, escorriam pelo pescoço, até os seios. Os cabelos tensionados desenhavam o contorno dos ombros, nuca e veias. 
O membro dele pressionava-se, proeminente, sob a sua orquídea coberta, suada, num movimento ritmado, lento.
A sensação juvenil, na maturidade reluzente, respeita o tempo dos sutis prazeres, em que se pode tudo, mas a escolha do depois é feita conscientemente, aguardado com a lembrança do recente agora, até novo encontro.
A taça de vinho nunca findava, nem tampouco era limpa. Ficava em seu fundo a borra, marcadamente denunciativa. O sarro da uva que perfumava o ambiente.
Aquilo sim era eternidade.

Márcia Maracajá

3 comentários:

  1. BELEZAS PURAS
    Marcelo Mário de Melo

    O pênis
    pau coloquial
    é mastro de muitas bandeiras
    cobra que se espicha
    quando toca a flauta
    peça da batedeira
    fazendo crescer a massa
    do bolo do prazer
    chave que abre e entra
    no triângulo mágico
    ponteiro
    pendrive
    broca
    faca
    espada
    caniço
    haste
    estaca
    tronco
    flauta
    batom
    picolé.

    A vagina
    periquita da menina
    lábios de carambola
    ostrinhas
    pitoquinho elétrico
    cava
    concha
    gaveta
    bainha
    poço
    escovinha
    capô
    almofada
    caverna encantada
    segunda boca
    fonte de suco
    agridoce.

    A bunda
    nádegas no ambulatório
    vitrine
    dunas de nuvem
    embala os olhos
    e arrasta
    em dança de almofadas
    ao seu centro.

    O ânus
    popular cu
    ponto de encontro
    de nuvens
    trevo
    estrela
    olho
    mina de ouro
    de delicado acesso
    pedindo maestria
    de mineiro em escavação.

    Os seios
    plásticos peitos
    fonte
    alimento
    alento
    aconchego
    abrigo
    travesseiro
    sinetas de prazer
    pavios de incêndio e luz
    teclas de alastrar delírio
    vaga-lumes acendendo estrelas.

    Todas as partes
    do corpo humano
    falas
    trelas
    tesões
    & seduções
    que brotam
    são igualmente
    belas
    sem sequelas.

    E quem vê nisto aqui
    coisa feia
    podre
    pornográfica
    indecente
    aberração
    corra à procura
    de um caixão
    e se enterre
    pois estará
    de alma morta
    para beber
    as belezas pela vida.



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  2. Já a um bom tempo, venho namorando seu trabalho, este poema, depois que o avistei, coragem em apresentar-me para ti, atinei.
    De que maneira apareceste em meu caminho? parei e pensei.
    Que belas palavras escritas, só poderia te surgido de alguém bela, singela, porem onde habita?

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