Acompanha-me do dia anterior, construído
no trabalho e celebrado com partilha e alegria, a ternura dos novos afetos que
me chegam, do encantamento da experiência do real, de reaprender a prática do amor
que julguei aposentar.
Por algumas vezes, nos últimos
dias, ouvi de sua boca um “meu amor” despretensioso, soando ao natural, liberto.
E no exemplo de sua práxis, deixei o meu amor fluir. Destemi viver e falar o “amor”,
tão mitificado e distanciado do ser. E, com expectativas anuladas, esvaziando-me,
existo pura e simplesmente nesse exercício de impermanecer, até no amor.
Ao meu amor, o que encontro
dentro de mim quando você me provoca nas ações mais corriqueiras digo, confie.
Ao meu amor, quando incomodado com seus relatos digo, perceba-se. Ao meu amor,
quando estamos afastados e desprende-se digo, liberte-se. Digo ao meu amor,
desfrute-se. E meu amor contempla-se com a inteireza de se ser amor e como amor
fortalecido ama-o sem sair de mim.
Digo a você, amor, que daqui a
paisagem é linda, com todas as depressões no relevo, os pedregulhos em trechos hostis,
porém não menos férteis e diversos. É bela essa aparente distorção de aridez
que numa chuva fininha verdeja a esperança protegida em seu interior,
denunciando suas sutilezas.
Sinto com delicadeza essa
terra, pés e mãos desnudos e prontos para a aspereza, para a umidade, para o
cheiro, para a energia. Entrego-me à experiência do sentir. Meus olhos enxergam
o que veem. Contemplo o discurso que meu coração alcança. A relação sagrada e
secreta dessa mística só saberão nossos sentidos, que desmentidos ou enganados
poderão nos trair quando estivermos fora do alcance um do outro.
Mas, amor, tudo é descoberta, é
mutável nessa natureza nossa. É aventura, acolhimento. É surpresa e
estranhamento. Qual o prazer de adentrar a floresta sem pisar descalço na mata
e afundar levemente os pés na terra, sentindo a textura de seus grãos
massagearem a pele, se não for para sentir tudo como uma primeira vez?
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