domingo, junho 04, 2017

DIGO AO MEU AMOR





Acompanha-me do dia anterior, construído no trabalho e celebrado com partilha e alegria, a ternura dos novos afetos que me chegam, do encantamento da experiência do real, de reaprender a prática do amor que julguei aposentar.


Por algumas vezes, nos últimos dias, ouvi de sua boca um “meu amor” despretensioso, soando ao natural, liberto. E no exemplo de sua práxis, deixei o meu amor fluir. Destemi viver e falar o “amor”, tão mitificado e distanciado do ser. E, com expectativas anuladas, esvaziando-me, existo pura e simplesmente nesse exercício de impermanecer, até no amor.


Ao meu amor, o que encontro dentro de mim quando você me provoca nas ações mais corriqueiras digo, confie. Ao meu amor, quando incomodado com seus relatos digo, perceba-se. Ao meu amor, quando estamos afastados e desprende-se digo, liberte-se. Digo ao meu amor, desfrute-se. E meu amor contempla-se com a inteireza de se ser amor e como amor fortalecido ama-o sem sair de mim. 


Digo a você, amor, que daqui a paisagem é linda, com todas as depressões no relevo, os pedregulhos em trechos hostis, porém não menos férteis e diversos. É bela essa aparente distorção de aridez que numa chuva fininha verdeja a esperança protegida em seu interior, denunciando suas sutilezas. 


Sinto com delicadeza essa terra, pés e mãos desnudos e prontos para a aspereza, para a umidade, para o cheiro, para a energia. Entrego-me à experiência do sentir. Meus olhos enxergam o que veem. Contemplo o discurso que meu coração alcança. A relação sagrada e secreta dessa mística só saberão nossos sentidos, que desmentidos ou enganados poderão nos trair quando estivermos fora do alcance um do outro. 


Mas, amor, tudo é descoberta, é mutável nessa natureza nossa. É aventura, acolhimento. É surpresa e estranhamento. Qual o prazer de adentrar a floresta sem pisar descalço na mata e afundar levemente os pés na terra, sentindo a textura de seus grãos massagearem a pele, se não for para sentir tudo como uma primeira vez?  

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