O relógio bate a arquitetura das
horas sonoramente irritante. O motor da geladeira ocupa agressivo mais um
espaço. No fundo o assobio dos saguis e o canto dos pássaros soam convidativos.
Mas o relógio é soberano e age na vigília do tempo.
O tempo que o mundo lá fora
insiste em perseguir. O tempo que não coaduna com o que sobrevive em mim querendo
arrastar-me com correntes nos pés, pesando este meu caminho.
Abro as portas do fundo. Destravo
as passagens. Tiro as sandálias. Liberto-me disso tudo de fora que pensam haver
em mim. A terra me quer. O chão me pede. Me entrego. Os abacateiros, as
mangueiras, e o Jamelão - fruto dos deuses hindus -, todos prenhes, me recebem
manifestando-se irmãos. As raízes das árvores me fazem cócegas. Sou acolhida com
suas folhagens festivamente. E o vento me acaricia.
Não sei por que, mas choro. E
essas lágrimas se abundam e banham meu corpo. Ritual sagrado de purificação. Secretude
inexplicável que só se vive uma única vez. A areia sobe e é carregada por um
rodopio de ar que levanta as folhas do terreiro. E sou lavada, desta vez pela
terra.
Um som cúmplice do que se vai
dentro de mim se presentifica. Silenciosa respeito essa voz que se instala e
me restaura. Não há o que contestá-la. Apenas a certeza de que essa força me acalenta,
alimenta e fortalece, aonde quer que eu vá.
***
SECRETUDE, Lau Siqueira*
tem segredo
que eu sinto
tem segredo
que nunca mais
eu minto
tem segredo
extinto
que eu sinto
tem segredo
que nunca mais
eu minto
tem segredo
extinto
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Contribuições