segunda-feira, junho 30, 2014

DO MEU MORRER

 
 
 
Quando eu morrer
Nunca saberão quem fui
Além do que escrevi
E essas poucas letras se apagarão
E desaparecerão meus versos
E será inútil deixar por escrito meus pedidos
De que não autopsiem meu corpo
Mas queimem essa carcaça até o pó
E libertem-me entre os que amei
numa rajada de vento à beira mar...
 
Enterrarão minhas vontades
Toda a minha dignidade
E serei, por fim, o nada
 
Não estarei aqui para agarrar-me nos verbos
Nem gritar minhas sanidades
Não eu
Quem sabe uma minúscula partícula de mim
Ainda fique
Eu-toda
Eu-frangalhos
Esta-eu-colagem-rejuntes
Não
 
Não me falem que virei poeira cósmica
Nem me peçam perdão
Reconhecendo ausências
Indiferenças
Vaidades
Sacanagens
Nem orem nem rezem nem chorem
Eu não vou estar nem aí
Carreguem seus pesos sozinhos
Como tenho carregado o peso da vida até aqui
 
Quando eu morrer
Assim como morro agora
Poucos saberão de fato quem fui eu para mim
- Talvez, de uma parte, saberão
minha filha e amigos-irmãos -
Quem fui eu nessa porra de vida
Oscilante
Vazia
De gente que eu quis ombro, mãos e ação perto de mim.
 
 

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