domingo, abril 20, 2014

LAMENTO SILVÍCOLA


 


A todo o povo indígena e às pessoas cuidadoras deste país


Qual a terra que é casa para mim
Que estou nesse sempre vagar
Entregue ao vento para me guiar
A um chão que eu possa cuidar?
 
Nenhuma terra é casa para mim
Onde nela eu vejo sobejar
A violência à mãe, ao filho, ao lar
Em favor do que no futuro nos desfavorecerá
 
Nenhuma terra é fértil para mim
Onde nela a água livremente não possa brotar
Onde as crianças não estejam a brincar
Porque não têm onde correr e o que comer
 
Onde as praças sejam campos secos sem lazer
E as árvores já não existam mais para abrigar
As aves que ali viviam a cantar
E hoje presas servem para o homem satisfazer
 
Onde o meu corpo não seja minha morada
Nem a palavra a minha oração
E a escola condene com pendão
O ensinamento da ancestralidade perpassada
 
Nenhuma terra é casa para mim
Nem para meus filhos e meus iguais
Onde minha crença não se manifeste em rituais
Nem eu a defenda, nem a ostente e ela me proteja
Como fazem os que com a cruz julgam a minha fé
 
E ainda assim estou eu, aqui de pé
Uma rocha, uma folha, um fio de água
Pela luz do sol revigorada
Andarilha, nômade, pungente como a vida é.


 

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