Não é que eu tenha abandonado a
poesia, nem ela a mim, mas hoje falo noutro tom. Aqui, tanto silêncio me obriga
a ouvir o que não cala e tem me despertado para a lembrança de tua breve
passagem.
Inicio esta carta preparando uma
massa, numa sexta-feira fria, às 23:00, após ligação feita para uma amiga.
Falamos de ti. Tua presença por essas paragens traria novos ares para a poesia.
Para a minha poesia...
Li alguns de teus artigos. Sei de tuas defesas. De tudo um pouco que pude fazer para me aproximar de ti o fiz,
desistindo de entregar-te a rosa e o livro que iria oferecer-te com
dedicatória, quando fui no último janeiro para Recife. Deixaria em tua
escrivaninha de trabalho. Sim, pensei em fazê-lo. Mas voltei pro meu chão, onde
sou por inteiro. É certo, precisava me curar de alguns vícios. Decifrar os
sonhos. Entender os desejos. Silenciar o silêncio. Beber o vinho sem
desperdício. Sorvê-lo sem desespero.
Escrevo-te nesta noite, depois de te ler entre livros e poemas, imaginando teus sabores, se aprecias uma massa,
pensando como seria tua estada e assentamento nestas terras. Ah! Se te destes
esta oportunidade! Se tivestes experimentado um pouco mais de nós, daqui. Será
que terias seguido em linha reta, sem do alto de nossas colinas te lançares em
voo livre?
Por três vezes estivestes aqui,
depois de estares. Se não te lembras, se eu te recriei, nunca saberei. Sei sim,
do olhar desviado no atropelo que causei. Não pedirei desculpas. Foi
intencional estar ali, naquele lugar em que me finquei. Depois, quem
desconcertou fui eu. E fugi. E quando te busquei, partistes. E fiquei eu neste
tempo, no meu lugar, vivendo o que de mim é certo. Meus livros. Amores. O trabalho que me contém para que em vazão eu
não deslize em um gesto que me afaste para longe de ti, ainda que não tenha
perto de ti estado.
Trinta e cinco minutos e a massa
já está cozida. Sirvo-me de um pouco de vinho. Que versos te daria? Difícil
escolher um poema. Um dedo de prosa com poesia abarcaria tuas tantas
trajetórias? Então me percebo idealizando um momento. O dia em que dispensaria
os e-mails, os torpedos, e esperaria a campainha tocar com correspondência tua.
Eu desceria, aturdida, as escadas, receberia tua mensagem e festejaria a esperada
chegada.
Perguntei a minha filha, outro dia, o que achava disso – o amor – e em
resposta lhe disse:
- Júlia, eu preciso amar, e nada irá me frear
porque para quem ama não existe limites.
Naquela noite eu estava tão entusiasmada contigo na cidade que antes mesmo disso preparei a menina para receber tua presença em nossa casa. rs.
Naquela noite eu estava tão entusiasmada contigo na cidade que antes mesmo disso preparei a menina para receber tua presença em nossa casa. rs.
E meses passaram-se. Ainda sonho
a tua face e sinto e sei de ti. Acordar é um castigo nesses dias de
encantamento. A realidade na tua ausência é um tormento. Traço os meus dias na
mesma ordem, de alguns prazeres me alimento. Na natureza me abasteço. Mas o
sentimento, ah! o sentimento... este não me escapa, tocou, mexeu, é só
desdobramento, e mesmo delirante tem seu quê de motivante, protetor... é amor
que vem pra me centrar e me colocar para dormir em paz.
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