sábado, fevereiro 22, 2014

SENTIMENTO ENCANTATÓRIO



Não é que eu tenha abandonado a poesia, nem ela a mim, mas hoje falo noutro tom. Aqui, tanto silêncio me obriga a ouvir o que não cala e tem me despertado para a lembrança de tua breve passagem.

Inicio esta carta preparando uma massa, numa sexta-feira fria, às 23:00, após ligação feita para uma amiga. Falamos de ti. Tua presença por essas paragens traria novos ares para a poesia. Para a minha poesia...

Li alguns de teus artigos. Sei de tuas defesas. De tudo um pouco que pude fazer para me aproximar de ti o fiz, desistindo de entregar-te a rosa e o livro que iria oferecer-te com dedicatória, quando fui no último janeiro para Recife. Deixaria em tua escrivaninha de trabalho. Sim, pensei em fazê-lo. Mas voltei pro meu chão, onde sou por inteiro. É certo, precisava me curar de alguns vícios. Decifrar os sonhos. Entender os desejos. Silenciar o silêncio. Beber o vinho sem desperdício. Sorvê-lo sem desespero.

Escrevo-te nesta noite, depois de te ler entre livros e poemas, imaginando teus sabores, se aprecias uma massa, pensando como seria tua estada e assentamento nestas terras. Ah! Se te destes esta oportunidade! Se tivestes experimentado um pouco mais de nós, daqui. Será que terias seguido em linha reta, sem do alto de nossas colinas te lançares em voo livre?

Por três vezes estivestes aqui, depois de estares. Se não te lembras, se eu te recriei, nunca saberei. Sei sim, do olhar desviado no atropelo que causei. Não pedirei desculpas. Foi intencional estar ali, naquele lugar em que me finquei. Depois, quem desconcertou fui eu. E fugi. E quando te busquei, partistes. E fiquei eu neste tempo, no meu lugar, vivendo o que de mim é certo. Meus livros. Amores.  O trabalho que me contém para que em vazão eu não deslize em um gesto que me afaste para longe de ti, ainda que não tenha perto de ti estado.

Trinta e cinco minutos e a massa já está cozida. Sirvo-me de um pouco de vinho. Que versos te daria? Difícil escolher um poema. Um dedo de prosa com poesia abarcaria tuas tantas trajetórias? Então me percebo idealizando um momento. O dia em que dispensaria os e-mails, os torpedos, e esperaria a campainha tocar com correspondência tua. Eu desceria, aturdida, as escadas, receberia tua mensagem e festejaria a esperada chegada.

Perguntei a minha filha, outro dia, o que achava disso – o amor – e em resposta lhe disse:

 - Júlia, eu preciso amar, e nada irá me frear porque para quem ama não existe limites.


Naquela noite eu estava tão entusiasmada contigo na cidade que antes mesmo disso preparei a menina para receber tua presença em nossa casa. rs.

E meses passaram-se. Ainda sonho a tua face e sinto e sei de ti. Acordar é um castigo nesses dias de encantamento. A realidade na tua ausência é um tormento. Traço os meus dias na mesma ordem, de alguns prazeres me alimento. Na natureza me abasteço. Mas o sentimento, ah! o sentimento... este não me escapa, tocou, mexeu, é só desdobramento, e mesmo delirante tem seu quê de motivante, protetor... é amor que vem pra me centrar e me colocar para dormir em paz.


 

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