quarta-feira, junho 05, 2013

REVISITA À PRIMEIRA INFÂNCIA

Mamãe e eu. Barro - Recife/PE. 1978


 

( inspirada pela poesia de Frederico Spencer)

 

   “[...] uma mó
                                                                        de desmantelos
   e destroços
   de palavras
com zelo.
               Sozinho, a esmo.”

Naquele caminho

o tempo dividia dois tempos:

hoje e outro dia

que a memória escondia

e encoberta há tempo

esquecida, deixou a melancolia

 

Indiferente a esse tempo

eu percorria as ruas, a praça

passava defronte a casa

que foi nossa, n’outro tempo

e o coração cedia

a uma dor de outro momento

 

O trajeto transcorria

eu do carro, ali dentro

pela janela assistia o sentimento

nenhuma lembrança em filme

sensações me remetiam a esse tempo

 

Então, na subida da ladeira

já de partida, eu percebia

olhando o que deixava

através do vidro, olhar atento

uma dor, uma vida antiga

adormecida  por algum unguento bento.

 

 

***

Em um de meus primeiros retornos à Recife para consulta médica, em 2012, após minha mudança para Garanhuns, o motorista ( geralmente fazia as viagens com pessoas que conhecia, durante a viagem, e pagávamos a um motorista particular para isso) ao deixar uma passageira, entrou em uma vila mimosa no bairro do Barro, em Recife, e causou-me uma impressão tão forte percorrer aquelas ruas, passar pela praça, margear o rio e ver aquelas robustas árvores. E, curiosamente, paramos diante de uma casa que muito me chamou a atenção.

A passageira em questão deu um depoimento marcante de sua vida. Intrigante foi saber que já havia morado na casa onde eu estava situada em Garanhuns e, posteriormente, vim a saber através de minha mãe que a casa em que a deixamos foi nossa casa em minha 1ª infância.

Com aproximadamente 1 ano de idade contraí uma doença transmitida por pombos. Em nossa casa os pombos voavam livremente. Mamãe teve uma fase difícil, nessa época. Andava horas comigo no colo, subia uma ladeira imensa, que dava acesso à vila, para andar mais alguns kilômetros onde eu recebia tratamento quase que diário, tomando injeções, e a última estrofe deste poema descreve a imagem que guardei do colo dela, olhando para a vila, do alto da ladeira.

Quando cheguei à casa de mamãe, após a viagem, comentei da sensação tida ao entrar e transitar por aquela vila. O baú foi aberto e novamente as memórias desvendadas...

 



Nenhum comentário:

Postar um comentário

Contribuições