Mamãe e eu. Barro - Recife/PE. 1978
( inspirada pela poesia de Frederico Spencer)
“[...] uma mó
de desmantelos
e destroços
de palavras
com zelo.
Sozinho, a esmo.”
Naquele
caminho
o tempo
dividia dois tempos:
hoje e outro
dia
que a
memória escondia
e encoberta
há tempo
esquecida,
deixou a melancolia
Indiferente
a esse tempo
eu percorria
as ruas, a praça
passava
defronte a casa
que foi
nossa, n’outro tempo
e o coração
cedia
a uma dor de
outro momento
O trajeto
transcorria
eu do carro,
ali dentro
pela janela
assistia o sentimento
nenhuma
lembrança em filme
sensações me
remetiam a esse tempo
Então, na
subida da ladeira
já de
partida, eu percebia
olhando o
que deixava
através do
vidro, olhar atento
uma dor, uma
vida antiga
adormecida por algum unguento bento.
***
Em um de meus primeiros retornos à Recife para consulta médica, em
2012, após minha mudança para Garanhuns, o motorista ( geralmente fazia as
viagens com pessoas que conhecia, durante a viagem, e pagávamos a um motorista
particular para isso) ao deixar uma passageira, entrou em uma vila mimosa no
bairro do Barro, em Recife, e causou-me uma impressão tão forte percorrer
aquelas ruas, passar pela praça, margear o rio e ver aquelas robustas árvores.
E, curiosamente, paramos diante de uma casa que muito me chamou a atenção.
A passageira em questão deu um depoimento marcante de sua vida.
Intrigante foi saber que já havia morado na casa onde eu estava situada em
Garanhuns e, posteriormente, vim a saber através de minha mãe que a casa em que
a deixamos foi nossa casa em minha 1ª infância.
Com aproximadamente 1 ano de idade contraí uma doença transmitida por
pombos. Em nossa casa os pombos voavam livremente. Mamãe teve uma fase difícil,
nessa época. Andava horas comigo no colo, subia uma ladeira imensa, que dava
acesso à vila, para andar mais alguns kilômetros onde eu recebia tratamento
quase que diário, tomando injeções, e a última estrofe deste poema descreve a
imagem que guardei do colo dela, olhando para a vila, do alto da ladeira.
Quando cheguei
à casa de mamãe, após a viagem, comentei da sensação tida ao entrar e transitar
por aquela vila. O baú foi aberto e novamente as memórias desvendadas...
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