Foto de Maria Fernanda Altenfelder
Não era pra ser assim, mas é
O dia amanhece sem o bom dia
Suor escorrendo
Maquinário inútil
Ruídos sem maquinário
Gente mecanizada para isso
Mentor servindo para isso
O espaço servindo para isso
E assim, continuamos líquidos
Não era pra ser assim, mas é
A complacência sendo ética
O conflito como equilíbrio
Os atos contestando o silêncio
O silêncio enfrentando os atos
O intervalo sem descanso
O estado de alerta permanente
Girondinos e Jacobinos presentes
Espaços polarizados na ordem inversa
E assim, continuamos rarefeitos
Não era pra ser assim, mas é
Você e eu, desiguais
Mesmo constituídos da mesma matéria
A caminho de um fim sem desvio
Comprometidos com a vida pós-trabalho
Família, lar, amores, debilidades, dores
No entanto, acumulando riquezas e misérias
Para depois comer a hóstia, jejuar,
Louvar a Deus, tomar passe, fazer terapia
E assim, continuamos petrificados
Não era pra ser assim, mas é
O abraço sem efeito
O olhar sem olho-no-olho
A emoção racionalizada
A interação mal-intencionada
A palavra sem verbo
O corpo a corpo sem calor
Indiferente, distante e mortificado
E assim, continuamos frígidos
Não era pra ser assim, mas é
A labuta incontinenti do trabalhador
Macerando os espinhos na pegada firme,
Timbre, pulso, vontade
E convicção da mudança sem-demora
Ponto a ponto tecendo seu escudo
Dia após dia dirigindo seus passos
Para o enfrentamento da covardia dos fracos
Um trabalhador, nada mais,
O que tem de ser.
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