POEMA ESQUECIDO

ODAILTA ALVES*

Esqueci o texto
E meu texto esquecido
Era vestido de versos
Em preto e branco
Sem colorido
Palavras de um tempo
Onde tudo era sonhado
Clamado, devorado
E nada sabido
Fugiram-me todas as palavras
As rimas, estrofes
Será que tinha rima
O poema proferido?
Dele, lembro-me quase nada
Apenas ouço ainda os seus gemidos
Sua metáfora apagada
O lápis grudado à mão
Uma dor no quarto verso
No quinto, a escuridão
No sexto, um manifesto
O resto...
Não lembro o resto
Apenas a solidão!

***

Odailta Alves é professora, mestra em Linguística pela UFPE. Desenvolve estudos sobre a influência africana no português do Brasil e análise do discurso e escreve poemas. Nas palavras de Odailta " fiz esses rabiscos no dia daquele concurso de poesia na rua da Moeda... Achei massa quando vc, ao esquecer o texto, teve a coragem de aproveitar o tempo falando coisas tão importantes... muita gente entregaria o microfone..."

 

Odailta estava no dia de minha apresentação na 7ª Recitata, em 2012, e presenciou esse momento, quando fui tomada por outra ordem de sentimento, deixando de lado a poesia. Assim, fiz o meu protesto.

Amiga, profissional da educação, pessoa que admiro e com quem aprendo muito sobre superação e vitórias, sinto-me honrada de fazer parte de sua vida.

 

Te amo, Odailta.

 

P.S.: O poema esquecido trata-se de ACORDA POVO. O grupo de Ensino, Pesquisa e Extensão Poesias Utópicas, daqui da UAG - UFRPE o inseriu em Recital Poético Performático, que virou um espetáculo  CAMPO DE VARAIS. Nesse trabalho foram escolhidos meus poemas femininos, feministas, como queiram definir.  Foi um grande presente que fechou o meu ano de 2012. Tudo surpresa. Enquanto eu tecia a monografia, esse povo talentoso estudava minha poesia e tomava corpo dela.

 

Gislainy Nascimento é a pesquisadora, aluna, atriz (estuda teatro), escritora ( ama escrever, no entanto ainda gesta seus textos) que performatiza o poema ACORDA POVO.

Uma emoção indizível tomou conta de mim quando ela adentrou o auditório, ambiente preparado, cenografia perfeita para a limitação de recursos, e nos tocou, literalmente e poeticamente, vestindo sua persona.

 

Assim estava escrito.

 

Gislayne Nascimento em performance no Recital Poético Performático

CAMPO DE VARAIS - Literânima UAG - UFRPE