sábado, setembro 22, 2012

AS ÁRVORES QUE MORREM



Ontem as escolas e órgãos em defesa do Meio Ambiente, além de alguns meios de comunicação, comemoraram o Dia da Árvore.
 
Datas não me tocam. Me importam os atos. Saí de Recife, há alguns meses, crendo que no interior encontraria muito do que uma megalópole perdeu ao longo dos anos, em busca do crescimento descontrolado, pelo progresso. Falam de minha cidade, de seu clima abafado, do calor insuportável, das paredes de concreto erguidas, do fétido cheiro de esgoto, mas não refletem os pequenos atos que levaram Recife a se tornar esse quadro aparentemente desagradável, porque ela tem muito o que se apreciar.
 
Das últimas vezes que estive lá, seus rios pareciam mais limpos, e me surpreendi com o verde às margens deles, cobrindo os mangues, além do cuidado com as árvores que embelezam tanto a Recife de minha memória saudosa. Viajando a outras cidades não encontrei uma mais arborizada que Recife. Corrijam-me se estou enganada. Mas no nordeste outras cidades se gabam de cidades mais arborizadas da região, do Brasil. Qual nada! Recife é uma cidade que verdeja, que ao mesmo tempo em que é poluída, tem a seu favor esses seres que a Prefeitura entende precisam serem mantidos para a beleza e saúde da cidade.
 
Mas, voltando aos pequenos atos, estando eu, aqui, a observar tudo o que cresce e mingua nesse agreste, incrédula assisto a minha rua e outras derrubarem as árvores e jardins floridos de seus quintais para encimentá-los. Da minha varanda perdi a vista de belas árvores, e da área de serviço estarrece-me os quintais pavimentados. Agora prevalece a ausência dos passarinhos, que cantarolavam em algazarra brincando a voar sobre as plantas floridas, dos vizinhos.
 
Já  havia visto cenas semelhantes em ignorância. Calçadas inteiras preenchidas por madeiras de arbustos novos na época de São João. Festividade por aqui é queimar madeira, fazer fogueira. Quadrilha e forró pé-de-serra são coisas para se ver em cidades vizinhas. E como nesse período faz frio, devemos nos fechar em casa para fugir da fumaça, que com a neblina natural daqui de cima das colinas pode ser veneno para a saúde de quem já sofre de problemas respiratórios.
 
No dia da Árvore, nenhum movimento, e a cidade continua encimentando o verde, a exemplo temos a praça do Relógio das Flores. Cuidados com o Meio Ambiente só é possível de ver lá por baixo, onde os turistas passam e onde os canteiros que dividem as pistas da avenida principal dão mostras de cuidados. Muitas praças estão abandonadas, as árvores morrendo. Quando existe algum evento, aí vemos os canteiros frondosos, e olhando mais atentamente percebemos a terra recentemente remexida, como na semana da I Bienal Internacional do Livro do Agreste, montada na Esplanada Cultural Guadalajara.
 
Então eu me pergunto que orgulho tão grande desse povo em ostentar uma beleza que não é cuidada, nem sequer reclamada, uma beleza que vem e vai com os grandes festivais, para o olhar dos passantes, dos que não ficam.
 
É intrigante o sentimento que me toma ao notar a resistência de tantos filhos dessa terra aos que vêm de fora e olham o que eles já não conseguem enxergar, e de como isso lhes desagrada, e é um desagravo, porque esse ranço não abraça o de fora em outra época a não ser de acolhida aos turistas. Aos que ficam e querem ajudar a cidade a melhorar, somos inoportunos, inconveninentes, intrometidos. PERIGOSOS. Queremos "algo" a mais...
 
E assim, a cidade que está crescendo, e recebendo novos moradores, que migram das grandes cidades, sobretudo para alavancar as áreas de educação, engenharia, etc., vive um choque cultural, silencioso, dos que olham para uma Garanhuns de ontem, conformados e desejosos de que a mesma tranquilidade paire sobre a cidade, e dos que enxergam nesse lugar uma nova Garanhuns, a caminho de um crescimento desordenado, sem projetos para acompanhar o que abraça, uma cidade que no futuro não poderá diferir de uma Recife, uma Caruaru, ou outra cidade maior que dá mostras de erros e acertos de gestões que poderiam ser exemplos para esta cidade, cheia de espinhos e perfurme exalando de suas flores.
 
Na esperança de que algum garanhuense importante leia este artigo, de uma escritora blogueira forasteira com um olhar crítico, e ainda que jovem cuidadoso com o meio em que vive, gostaria que uma lei regulamentasse a poda e derrubada das árvores da cidade, e que existisse um incentivo para os moradores manterem seus quintais, e vou mais além, que os habitantes daqui fossem estimulados a fazerem uma agricultura familiar de subsistência, com pequenas hortas e criações, porque um outro problema que se multiplica na cidade é a pobreza, que o bolsa-escola não dá conta.

Uma população carente empurrada para fora da cidade e dos bairros luxuosos, instalada nas periferias, como em toda grande cidade, no futuro pedirá sua conta. Já detectamos a crescente ocorrência de roubos e assaltos nos bairros próximos da "elite". Isso não é à toa, é soma, é resultado, é reação, é uma bomba que mais tarde vai fugir ao controle social dos que estão protegidos sob muros altos e cercas elétricas da pacata Garanhuns, porque o conforto não foi o suficiente para resolver os problemas. A ignorância do outro. A fome do outro. E tantas outras chagas que a indiferença e a arrogância causam.
 
Orações não bastam. Não basta assitencialismo. Ordem e Progresso não estão escritos na bandeira nacional por mera escolha aleatória de palavras. Enquanto os governos não olharem com cuidado para o lugar e as pessoas com quem se comprometem, e o povo for ignorante e não cobrar do ESTADO o seu papel de representação, é o progresso desordenado e a violência dos que estão à margem que irá prevalecer.
 
As árvores que morrem são sacrificadas e esses atos dão sinais do que o homem tem valorizado, uma calçada livre de folhas, uma manhã sem o canto incômodo dos passarinhos, um quintal quente para ser facilmente varrido, uma cidade educada para o comércio, empacotanto o leite e plastificando o alimento, e a juventude acostumada a ver na televisão o consumo como remédio para seus vazios.
 
Sobre as flores... como diz Titãs "As flores de plástico não morrem". Que essa citação não seja um prenúncio de um tempo infértil, mas da arte como instalação para lembrar a valorização da vida.  
 
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