quarta-feira, agosto 29, 2012

ASSUNTO RECORRENTE

 
 
Como exigir do outro um amor, um amor que este não dispõe? Qualquer medida de amor que não possa ser dada, convertida em atenção, beijos, abraços, sexo...

De que maneira poderia amar alguém, além de si mesma, a pessoa que tem como imperativo defender seus amores tantos, que não são João, nem Maria, nem José, mas um mundo inteiro?!

São nos olhos, nas palavras, nos mínimos gestos, na atenção dispensada à distância - à espreita, na surdina - que detectamos o quão grave a nossa falta de amor exclusivo nos transformou em sujeitos contagiosos, aberrações genéticas, capazes de carregar a marca que nos segregue, que nos aponte e diferencie pela nossa condição.

Sinto-me uma bruxa, prestes a ser lançada na fogueira. Corpo em brasa. Dano-me a gargalhar. "Poderia agora me deitar contigo. Gozar infinitamente. Puxá-lo e solicitá-lo, e pedir de ti mais e mais, até a exaustão. Poderia eu agora tirá-lo daí, donde estás. Vem! Diria eu! E te conduziria para as escadarias, e desaceleradamente faríamos dos degraus descanso, não caminho, não passagem. Eu ainda te exigiria mais!!! Atrasaria teu relógio. Faria confusão em tua agenda. E te pediria filhos!!! Um. Dois. Dezenas deles para atê-lo, comigo. Acreditas nisso, de fato?!"

Quando penetramos um ao outro no olhar, desde então soubeste, tudo em mim era livre... e quiseste voar comigo. Por que desejaste então prender-me? Perdeste-me.

Voei!
***
Todo em um só fôlego. 28 de agosto de 2012. 20h
Márcia Maracajá


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