sexta-feira, agosto 24, 2012

ACORDA POVO

 
Tirem das estantes
Dos armários
A DIGNIDADE
Parem os automóveis
Cessem a emissão de gás
PRECISO RESPIRAR!
Encontrar um pouco de
Simplicidade e humildade
Nas ruas dessa cidade
POLUÍDA
Devorada pela desconstrução
Rasgada pela devastação
Sitiada
Estuprada
Nela fincada falos infindáveis
Recife emitindo os ais do consumo apocalíptico
Lugar para onde arrastaram a lavadeira
Que agora sem altar chora a antiga celebração
Resta então reinventá-la, Recife!
A cada carnaval
Resgatando do engodo progresso a sua memória
E tradição
Recife, peço-te veemência, silencie esta cidade
Motorizada,mortificada pela tecnicidade
Pela corrida descabida da busca pelo m²
Com vista cúbica para o apartamento do vizinho
Usurparam teu céu! O céu dos passarinhos
Que não ouço cantarolar
Abra um fosso e engula os arranha-céus
Vomite o lixo que obrigaram-te a aceitar
Minha cidade adoecida
Emputecida
Entregue ao capitalismo
Não sou filha tua aquiescida
Escancaro o peito e ponho-me a gritar
O teu mar que já não é teu nem meu
O teu mangue soterrado, sufocando os homens-caranguejos
Deem-me espaço
Para eu passar com a minha doença contagiosa
Latente em tanta gente
À espera de eclodir em feridas purulentas
Sangrentas
Escariosas
Escandalosas
Desinfetem o esgoto que contamina
A boca das crianças
E façam-lhes assepsia nos olhos
Expostos a estas imagens violentas
A população enfileira-se extenuada
Nos corredores dos hospitais
Amontoada em cárcere
Jogada à sarjeta
Como o lixo embebido no fétido chorume
E nós, filhos dessa cidade, em apartheid, expungidos,
Esmagados,apagados,
Esquizofrênicos, neurastênicos, poetas
Assistindo a  esses  golpes brutais e sistêmicos
Pedimos SOCORRO!
Acorda povo!
ACORDA POVO!
ACORDA POVO!!!


***

O poema acima foi costurado para a Recitata deste ano. Terminei de escrevê-lo em Garanhuns, pensando na minha cidade, de longe, e em tudo que me fez sair dela. Como amo minha Recife, e como sofro ao me deparar com tanta destruição...

Durante a apresentação esqueci o texto na íntegra, consequências de uma mente cansada, medicada... mas dei meu recado, mesmo que em pedacinhos, e me despedi, vestida nas roupas e na pele que queria.
 
Agradeço a presença de amigos, Odailta Alves, Juliana Santos e Gil, Flávia Benevides, A.M., Renata Santana, Jhony Sodré e sua companheira!  E também agradeço a torcida de todos que enviaram mensagens, torpedos etc., mas vencer nem sempre é o objetivo nesses momentos, no meu caso, lembrar o texto era! Já estava de bom tamanho! srsrrs
 
Legal ter revisto Samir, Roberto Macarrão, Helton Moura, Thiago Martins, Leo Zadi, e ter conhecido um pouco mais da Susana Morais, que apresentou a Recitata, e bater um papo com o Cléber de Oliveira, um dos poetas da rodada de hoje. Ter visto e trocado abraços com Piffardini e Jacinto, pessoa querida que admiro muito. Foi uma noite de despedida. Sniff, Sniff rs
 
Agora, acompanhemos a finalíssima desta edição. Já tenho meus preferidos do dia de hoje, sem ordem de predileção, Helton Moura e Thiago Martins. Que seja alegre essa final!

Cheiros em todos!

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