sábado, dezembro 03, 2011

ELOCUBRAÇÃO


Fim de ano. Um fim de ano diferente. Instala-se em minha alma um abandono. Uma sensação de vazio. Está tudo por terminar. As aulas na escola. Meus alunos indo, seguindo. O teatro, uma peça para finalizar o curso. A especialização me dando férias. E agora? O que fazer? Uma ansiedade me assola o peito. Assalto a geladeira. Tomo vários copos d'água. Ligo a TV e desligo, até decidir ler um livro. Tchekov me faz pensar em amarguras de outros tempos.
Uma frase não me sai da cabeça. "É utopia levar a escola pública para eventos literários." Com  supressão de uma ou de outra palavra foi mais ou menos isso que escutei, para não denunciar o contexto em que ouvi. Que dureza é a vida de um professor "fundamental". Que sofreguidão a vida de um professor com alma de artista. Que angústia a vida de um professor, escritor, com alma de artista. Meus alunos estão soltos na vida. Agora é com eles, e eu não os terei mais por perto. Coração de mãe emprestada a gemer, a torcer pelo sucesso de todos eles, até dos trabalhosos... 
Não houve formatura, viagem, bolo, canudos. Houve um ano inteiro de lições. Aprendi todas, tim tim por tim tim. Mas há tanto por vir, a compartilhar.
Em breve virão as férias, as tão sonhadas férias de meus colegas,dos estudantes... e eu estou (triste?)
Poderia ter anotado em calendário várias atividades, além do agendamento nos médicos para check-up. Cinema, passeios com a família, visitas a lugares só meus. No entanto, estou tentando encontrar o melhor caminho a seguir, apesar de já tê-lo escolhido.
No computador livros prontos, a esperar por suas publicações. Poemas a aguardar postagem. E eu me pergunto o por quê de tudo isso. Às vezes é bom se fazer esta pergunta. Nem sempre as respostas são imediatas. 
O cansaço da recorrente falta de tato das pessoas é esmagador. Há dias que viro pedaços, e tento me juntar aqui e acolá pra me recompor em casa. Retalho de gente. E nessa costura de mim mesma colo um pedacinho de Fulana e Beltrana que me prencheram a alma naquela conversinha entre um intervalo e a aula. Tem gente que é assim, só soma. 
Eu tenho uma lista de pessoas que não ouso dizer o nome, mas que julgando me tirar algo, só me enriqueceram, do melhor de mim. O que me lembra uma frase de Nietzsche que diz, em outras palavras, que o que não nos mata nos fortalece. Essa lista que trago comigo, de vez em quando, me faz constatar o quanto sou protegida e o quanto a vida conspira a favor de quem se entrega ao que ama.
Não tenho dúvida quando digo que amo gente. Amo a Literatura. Amo a liberdade enquanto o que esta pode proporcionar às pessoas, e só a educação é capaz de libertar alguém, e é através da comunhão que é possível existir essa forma de liberdade, como dizia Paulo Freire.
Minha noite inicia assim, sob sons de fogos de artifício, prenunciando festa, recomeço, luz. Estou mudando de fase, trocando os fusos. Preparando-me para novas crias. A lua me chama da fresta da janela, por entre uma persiana e outra. Levanto e vibro em sua direção. Tenho uma noite inteira pela frente.

Boa noite.  

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