Acredito que nada compensa a falta da companhia de um amigo. O amigo que na nossa falta ou no nosso desacerto conosco, vem nos dizer quem somos, pois sabe quem habita dentro de nós.
Os amigos, muitas vezes, são mais pais, mais irmãos, mais companheiros, do que nossos pais, irmãos e companheiros. Amigos são sempre presentes, mesmo ausentes, são motivo do riso, são inspirações, são discretamente amáveis, são amores, que somamos, e que cuidamos, zelando para não machucar.Um dia estão ao nosso lado, sorrindo, extravagantes, e de repente somem. E a vida passa a ter um vazio, um buraco sem tamanho, sem conteúdo que possa preencher. Uma lacuna abre-se no tempo...
***
Como foi bom você aqui, amiga. Uma cerveja, uma conversa, som na radiola, a festa de todas juntas reunidas, as poesias... o coco, a saia rodada, a gira, a oferenda no mar... parece que sem você tudo isso ficou sem graça. Iemanjá há de me perdoar por isso, mas com você aí em cima, degraus a mais...
Aqui, tem tanta coisa pra cuidar. Tô dando conta direito. Ando escrevendo, continuo observando, sentindo as dores, sabe? Claro que sabe. E tenho sido persistente. Um passo de cada vez. A Literatura tem me ajudado. Meu feminismo? Tá assim, no ar, pra se conectar, “ou toca ou não toca”.
Lembra aquele livro? Terminei. Você leu? Gostou? Mexi no que me aconselhou. Publicar? Não deu. Mas os tempos mudaram, as prioridades também. Hoje tudo tá na rede. Naquele tempo nós já nos atualizávamos. Quanta canseira e preparo, não foi?
Amiga, minha filha tá tão linda. Você vê? É uma luta, mas dá prazer. Você sabe de suas filosofias? De suas artes? Nós rimos muito. Nós somos inteiras. Felizes. Como você falou.
Nós, aqui, sentimos muitas saudades...
Um abraço, infinito!
Marcinha
À amiga-irmã, sempre querida.
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