sábado, julho 30, 2011

SÉTIMO DIA


Ney Anderson*

Atravessou a Avenida Conde da Boa Vista à procura de divertimento. As esquinas guardavam segredos que poucos conheciam. Geraldo esperava encontrar algo novo, especial. Só via bêbados, putas, mendigos e ambulantes. Subiu as escadas do sexy shop, comprou camisinhas, adorava os diversos tipos e cores, comprou ainda algemas e uma pequena máscara. Entrou no bar mais próximo. Os olhos atentos. As mãos suadas. - Vai beber alguma coisa? - Uma cerveja, por favor.

O estabelecimento estava vazio, olhou para os lados. Ninguém conhecido, graças a Deus. A cerveja foi colocada na mesa. Gelada, estava muito gelada. Bebeu com cerimônia, não podia se dar ao luxo de tomar cervejas sempre. Levantou-se, foi ao banheiro, olhou-se no espelho, lavou o rosto, organizou os cabelos. Ao retornar para a mesa, notou alguém de costas no balcão, um rapaz jovem. Ele virou-se. Geraldo olho-o atentamente e sorriu. Tomou mais alguns goles de cerveja. Percebeu o rapaz saindo do bar, foi atrás.

O carro estava com a porta do carona aberta. Entrou. As ruas não passavam de sombras. Acordou no meio da madrugada. Olhou ao lado, o jovem estava dormindo. Levantou-se. As camisinhas no chão, a máscara rasgada. Vestiu-se. Abriu a porta. Pegou um táxi. Voltou pelo mesmo caminho. Desceu na Avenida Guararapes. Andou. Devagar. Sem culpa. Andou.

A igreja já podia ser vista. Colocou as mãos nos bolsos. Retirou o Terço. Notou que as algemas ainda estavam lá. Abriu a pesada porta de madeira. Fez o sinal da cruz. Rezou, preparando-se para celebrar mais uma missa de sétimo dia.


***

Ney Anderson é recifense. Estuda jornalismo e é escritor. Participou das oficinas de Raimundo Carrero e tem publicado seus textos em revistas literárias. Atualmente mantém um Blog onde resenha livros de escritores nacionais e internacionais.
Com o conto acima foi selecionado no 6º lugar do Prêmio Maximiano Campos de Literatura, ano 2010.
Para conhecê-lo mais acesse: http://angustiacriadora.blogspot.com/

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