domingo, maio 08, 2011

CRÔNICA E POEMA PARA ESTE DIA

Num mês de maio de um ano qualquer, antes de nascer como mãe, andava eu pela avenida Oliveira Lima, no Recife, pensando o vazio de minha existência sem filhos, incubida de cuidar dos filhos de outras mulheres, amando-os como meus. Pensava meus passos rumo a um destino para um futuro onde não havia quem me esperasse, quem me amasse sem barganha, quem me desse a mão na confiança, quem me tivesse zelo. Eu andava, cabisbaixa, e pensava isso tudo, com a chuva fina me molhando os cabelos, naquela época curtos, e os ombros descobertos, e eu mesma chorava a chuva que molhava minha face, salgada, escondida, envergonhada daquela dor mesquinha de uma jovem que tinha a vida toda pela frente para emprenhar e parir quantos filhos quisesse ter. Foi quando recebi das mãos de uma pessoa desconhecida a seguinte mensagem, num cartão tamanho postal, com uma imagem de uma mulher com um bebê ao colo:


“Toda mulher é mãe
Mesmo que nunca tenha gerado um filho
Entregará a alguém os benefícios de seu amor...”

De imediato olhei para os lados, procurando o anjo que enviara a mensagem, mas qual nada! Ele estava a rir de mim, escondido. Enxuguei as lágrimas, levantei a cabeça e segui sem me queixar.
Muitos anos mais tarde, percebi que sim, eu já havia sido um pouco mãe para tudo o que cuidava, seguindo uma tradição milenar. No entanto, nasci de fato como mãe com o nascimento de Júlia, minha filha. Nasci mãe ao sonhar com sua face risonha e ante-ouvir sua fala rouquinha; ao suportar os enjôos, as enxaquecas, o cansaço do corpo na gestação, ao defendê-la ainda no ventre.
Hoje Júlia me acordou entusiasmada. Ansiosa por este dia, me deu um beijo delicado no rosto e sorriu. “Feliz Dia das Mães, mamãe”. Passou o dia a brincar e eu a cuidar das coisas dela, e das minhas, e de outras mulheres como eu. Ouvimos Música de Brinquedo, do Pato Fu, as crianças, mamãe e eu. E agora à noite propus assistirmos filme juntas. “Hoje eu escolho, afinal é o meu dia”- disse-lhe. E ela começou a choramingar. “Você não quer dividir seu dia comigo!” Percebi o meu engano e me corrigi. “Verdade, filha, se é meu dia é seu também porque sem você este dia para mim não existiria.” Ela se recompôs. Escolhemos juntas o filme. Conversamos. Exausta ela dormiu. E olhando o seu sono infantil, seu rosto sereno, sua presença além do espírito, lembrei do cartão cujo texto me tranquilizou no maio de um ano perdido de meu passado.
Abri minha caixinha de vime onde costumo guardar lembranças e lá estava ele, entre fotografias. O texto, de autoria desconhecida, que hoje dialoga com outras imagens no ciberespaço. Na caixa, ainda, entre as cartas, um rascunho em que eu aconselhava uma amiga recém mãe parida: “Amiga, irmã, não te esqueças, ser mãe, entre outras coisas, é tão somente amar sabendo dizer nãos”. E disso ri. Lição adquirida com muitos sins em minha vida. E viva a esse equilíbrio!
Muitas amigas ausentes de seus filhos, por agora, talvez nunca entenderão o que quis nesse texto passar, mesmo assim deixo aqui meu carinho sincero e reverências às mães, todas elas, neste domingo de maio de 2011.


Por todo sim e não,
Mulheres-mães com ou sem filhos,
Estamos ligadas à criação,
Cuidando do mundo agredido,
Que pede socorro embrutecido,
E carinho e atenção

Somos filhas das filhas de quem outrora
Tinha legião de seres aprendido
Que a natureza merece adoração,
Ante qualquer homem na terra em beleza,
Inteligência, força e argumentação

Somos mães, mulheres, pungentes
Na dança da vida em celebração
Mãos dadas para o todo,
Eternamente
Luz divina em carne, osso
Somos o caldeirão
Sagrado, profanado
Castigado
Pelo seu legado, vida em profusão

Pelejante, avante!
Mãe, mulher
Faça de sua vida o que quiser
Respeitando a sagrada força de Esther
Primaverando nos invernos de nossas vidas!

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