Amanheceu sol. O dia acinzentou. Dirigi-me ao computador para realizar minhas leituras. Deixei ativado o bate-papo julgando estar o perfil ausente. Mas ao sinal verde ele me despertou. É que eu ainda não havia acordado. Estava no automático desde que arrumei minha filha para a escola.
Como este homem do passado pode mexer tanto com o meu presente? Alguém que não imagino e nem quero ausente de minha vida. “Olá” ele me “diz”. Eu não o percebo, até que minutos depois uma janela de diálogo abre na tela sobre o meu texto. Ouço sua voz. Sinto-o ao lado, quente, e tenho seu sorriso nítido na lembrança.
Pergunta-me se estou no trabalho. Falo do que tenho feito, do que tem me angustiado. Ele me descortina. Entra com toda licença que já dei na minha veste feminina, irrequieta, apaixonada – como me define. Penso na ironia de ser alguém tão apaixonada, precisando se apaixonar...
Então este homem me diz que devo seguir sozinha. “Você entendeu o que eu disse, mas quer me burilar, sempre fez isso comigo. Só quem tem essa liberdade e habilidade de mexer assim em mim é você, mais ninguém.” Ele ri. Continua a me olhar para dentro. Fita meus olhos. Toca firmemente minhas mãos. E paciente arremata a conversa com incisão delicada, encorajando-me a seguir. Nenhuma cicatriz deixa no que faz.
Meu pensamento vai buscá-lo longe, de onde não posso lhe tirar. Ele despede-se com beijos, como de costume – um costume que não me cansa – e volto-me para meus estudos, saudosa dele, que desde sempre soube do meu voar rumo a esta liberdade, e eu tão livre me desprendia desse amor buscando me encontrar...
Belíssimo, Márcia. Bem intenso. Abraços!
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