sábado, abril 30, 2011

TEMPÓ / CLÁUDIA TREVISAN


Ando sendo regida pelas horas. Elas tecem minhas roupas com fios de segundos, 600 segundos e estou totalmente vestida, sem direito a cores.

São elas, malvadas travestidas em números que regem, sem pudor, o meu amor. E as minhas perguntas andam tão abreviadas, os eus te amo sublimados na fumaça dos ônibus. O tempo faz amor com minhas esperas, deleitam-se no meu olhar, cama tão acostumada com a pressa. São só alguns segundos o orgasmo.

Não fossem os engarrafamentos seria eu engarrafada, líquido habilidosamente preparado pela maquiagem compacta, pronto para ser consumido. A pressa me mostrou que os atrasos dão oportunidade aos acasos. É que o tempo tá revendo meus conceitos com autoridade e ando fria como um relógio, tudo passa e eu perco o ônibus enquanto observo atônita quanta perca de tempo há na pontualidade.
 
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Quer conhecer um pouco mais a autora? Acesse:   http://claudiatrevisan.blogspot.com/

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