terça-feira, março 15, 2011

À POESIA QUE SILENCIOU EM MIM


Ontem foi o Dia Nacional da Poesia, 14 de março, data de aniversário do escritor baiano, poeta abolicionista consagrado por "Navio Negreiro" e "Espumas Flutuantes", Castro Alves. No entanto, a poesia calou dentro de mim, num silêncio respeitoso, conectado à dor de uma nação que tem vivido dias nada poéticos. Mês que vem, lá neste lugar onde o seu povo agora sofre, comemora-se o  Festival das Cerejeiras.
Para quem não sabe esse Festival é tradição que foi criada por um ex-samurai, Tatee Kikuchi, que em 1882, triste com o abandono de um castelo em Hirosaki, resolveu plantar 1000 pés de cerejeira para alegrar o local e com isso, anos mais tarde, aquele lugar florido passou a ser frequentado e admirado pelas pessoas, tornando-se atrativo pela exuberância que as sakuras = flores de cerejeira lhe ofereciam. O festival que comemora-se nesta cidade também estende-se a todo o Japão, país que vê nas flores de cerejeira um símbolo de sua pátria. Em torno da Sakura pairam muitas lendas, também a de que uma princesa teria caído do céu próxima ao Monte Fuji, transformando-se em flor, a flor Sakura.
O fato é que ontem a poesia silenciou em mim, não recordei a data, nem sequer fui lembrada da  comemoração. Esses últimos dias, desde o tsunami no Japão, têm me tirado o sono, e quando abro as páginas da internet, meu faceboock, ligo a tevê, ainda encontro espaço para propaganda, carnaval, etc. e tal e penso no quanto somos mesquinhos, medonhos. Não posso fazer nada daqui onde estou, é certo, tenho limitações que me irritam e me angustiam, mas ainda posso resistir ao que de pior os meios de comunicação têm feito do ser humano.
Nosso país,diferentemente do Japão, ausente de tais fenômenos físicos, tem vivido suas enchentes, suas avalanches, enterrado muita gente viva, e igualmente, nessa hora, enterra  a poesia.  Agora não consigo versificar. "Estou sentindo as dores do mundo". Talvez esse seja um luto sentido por muitos nesse momento... e pouco compartilhado.
A poesia que ouço dentro de mim é um mantra, uma oração, e diz "Salve Deus! Salve Deus que te ilumina".
Que as flores de cerejeira restabeleçam a vida diante a morte de tantos nipônicos, porque a fé deles, sabemos, é inabalável.


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