quarta-feira, março 02, 2011

Ó ABRE ALAS! QUE EU QUERO PASSAR ...

Francisca Edwirges Neves Gonzaga, Chiquinha Gonzaga 
(* 17/10/1847 + 28/2/1935)

No Dia Internacional da Mulher aproveitamos para enfatizar as lutas e conquistas, também a violência e o tratamento reprovável com que as autoridades e a sociedade têm tratado as mulheres. Não podemos esquecer as muitas mulheres que herdaram e perpetuam uma educação patriarcal, machista e que corroboram com o quadro negativo a que se tem feito das mulheres.  Neste ano o dia  cairá em pleno carnaval.

O dia, certamente, vai ser embalado por muitos lixos musicais que temos tolerado nas ruas, no gosto popular. Músicas que, inclusive, já citei neste espaço e às quais não vou dar destaque. Quero sim, neste momento, lembrar de algo de importância relevante para o carnaval e a história das mulheres de nosso país.
Chiquinha Gonzaga, essa senhora de olhar altivo e de biografia irrepreensível, uma figura a quem devemos render homenagens no carnaval e em nossas conquistas também dela devemos recordar. Não falo da personagem representada pela minissérie global. Se lerem os livros que tratam de sua história, verão, o quão esta mulher muito nos diz em suas escolhas, que dispensam acessórios que a vitimizem ou lhe dê status senão pela sua personalidade destemida e ávida de liberdade.

Sua vida, à sua época, foi marcada por escolhas que a levou a abdicar da maternidade de seus filhos, porque os costumes não lhe permitiam ser mãe. Porque, talvez, ela própria não o quisesse, não como a sociedade obrigava às mulheres daquele tempo serem. Foi uma das primeiras mulheres divorciadas no Brasil, um século antes do divórcio tornar-se um direito civil neste país.(1877-1977) Mulher que ousou sair do lugar marcado, imposto, o único reservado à mulher, o lar, e com sua arte - mesmo diante a perseguição de seus parentes, que a preteriam - superou o preconceito e fez sua música ser cantarolada e conhecida pelo povo, além de ter colocado em evidência a cultura genuinamente brasileira, criando estilos musicais próprios.

Uma mulher que não se negou ao amor, à paixão, que lutou por causas sociais, foi abolicionista, republicana, a quem se deve o contento da existência da defesa dos Direitos Autorais, pois devido a sua situação de explorada, que lhe agredia por roubarem-lhe o sustento, arregaçou as mangas e se mobilizou buscando seus direitos. Sendo precursora aí também dos direitos trabalhistas. Criou assim uma entidade de classe que exigisse a não-exploração do compositor popular e dos teatrólogos, a Sbat - Sociedade Brasileira de Autores Teatrais,( pois  foi ela uma pioneira do teatro brasileiro).

Há muito o que se falar dessa mulher que habita, mesmo que desconhecida, a alma das mulheres que lutam pelo respeito e pela dignidade no Brasil, ainda muito atrasado no atendimento ao cumprimento das exigências internacionais, colocando-o em posições inferiores e vergonhosa na lista de países quanto ao tratamento que destina às mulheres brasileiras.

Sobre vida, obra e história da sociedade brasileira de sua época, a socióloga Edinha Diniz, nos presenteia com sua pesquisa incessante e apurada, no livro Chiquinha Gonzaga uma história de vida, da editora Zahar, literatura que incluí em meus estudos feministas e que venho compartilhar com vocês.

Neste 8 de março, em pleno carnaval, que lembremos do seu abre alas a todas as mulheres, o seu abre alas diante tanta ignorância e medo de nossa força, tendo liberdade de transitar em todos os espaços, sem restrições.

Feliz carnaval a todos! Feliz Dia Internacional da Mulher a todas nós, mulheres, e aos homens que nos valorizam!

  (...)EU SOU DA LIRA
           NÃO POSSO NEGAR(...)
(...)ROSA DE OURO
          É QUEM VAI GANHAR"
                                  Chiquinha Gonzaga 


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