quarta-feira, janeiro 05, 2011

O JOGO

DIONE BARRETO
 

estou no jogo
entre os princípios que regem a realidade
e a satisfação de um ideal que vive
dos contos de fadas inexistentes


estou no jogo
entre a mentira ensinada como verdade
e a verdade que me solicito
e que se perde na vontade castrada


estou no jogo da ordem do dia,
estou no jogo da obrigação do vivo,
estou no jogo de uma briga de incompetentes,
estou no jogo dos viventes


estou no jogo
porque não me fiz de esquecida,
porque não me cansei da luta pelo imaginário,
porque não me permiti desistir


estou no jogo
porque o meu palhaço não se extinguiu na fantasia,


porque minha cigarra
ainda canta nos períodos de inverno,


porque o meu vagalume
foi criado para brilhar na escuridão,


porque o meu personagem
acredita que o teatro vazio
também constitui uma platéia


estou no jogo
porque acredito ser mais forte
que as batidas do coração.


***

Dione Barreto, Feitiço do Silêncio, 1984.

Minha irmã, Maria, compartilhou comigo. Sou eu também apreciadora desta grandiosa poetisa.

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