segunda-feira, outubro 04, 2010

AHORA SÓLO HAY EN MI MEMORIA


Eita, nêgo, saudade danada que bateu de tu hoje. Dos tempos que tu ia lá em casa, ligava avisando tua chegada, e eu me perfumava de hidratante e cheiro acanelado pra te receber. Você assobiava, eu jogava a chave. A janta era o que menos importava depois dos beijos, do abraço apertado. A cama com lençol de fios finos nos acolhia, num ventinho bom que vinha lá da praia... nossa conversa que só terminava quando um dos dois dormia. Eu levantava cedo, recolhia tua farda no varal, lavada e estendida por você antes da cama. E não me importava nem um pouco de passá-la e preparar o teu café, servido em mesa posta, e sem fome te ver ali, sentado, todo pronto, engoli-lo com pressa para ir trabalhar.

Eita, nêgo, e teu cheiro de cacau evaporando pelos poros, perfumando a casa em dia quente. Teu ombro onde recostada a cabeça eu assistia aos filmes que trazias, e ali mesmo no sofá eu dormia. As horas de aperto na rede, na varanda que soubemos como aproveitar, fizesse chuva ou sol. E nos fins de semana as confraternizações com os amigos, os almoços, o sambinha. Como poderia ser difícil te amar? Ô nêgo, que saudade danada...

Toma aqui o meu abraço, público, escancarado, de alguém que não te esqueceu, que sabe amar entre os livros e guardar o que de mais belo o amor oferecido me deste, mesmo assim, desse jeito teu, livre, moleque, que eu soube entender.

Toma um cheiro no cangote e não sinta medo de desarmar para eu te dar aquela massagem, demorada, tu sob os meus pés, e mais beijos e cheiros e abraços, as tuas mãos massageando minha cabeça, e a saudade do daqui a pouco que te leva embora pra deixar o teu gosto em minha boca, até a hora do café tardio.

Te cuida, eu dizia sempre quando tu te ias, porque eu só sabia cuidar de mim...

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