quinta-feira, setembro 02, 2010

É DE FAZER CHORAR


Estou acompanhando o horário eleitoral. Não consigo me isentar disso. Quando arrumei tempo disponível para assisti-lo, no primeiro dia o programa pareceu-me de humor. Tive acessos de riso. Com o passar dos dias a recepção foi bem diferente. Principalmente com relação às propagandas dos presidenciáveis.

Impressionam-me os relatos de vida, os feitos, a cara limpa e de pau! A santidade! A saúde para a hipocrisia patológica e para a perpetuação do preconceito. Ouço o idoso ex-cortador de cana e do operário das obras de transposição do Rio São Francisco. Uma lágrima acompanha o choro agradecido daqueles personagens da vida real. Ouço uma voz que destoa no meio de tantos discursos iliádicos. Me afino com tal voz. Pena seu tempo ser curto, apesar de sua mensagem ser clara e de simples entendimento para o povo que precisa dela. Mas admito, o poder da imagem é imbatível quando se trata da comunicação e manipulação da massa.

É de fazer chorar a propaganda eleitoral destas e de muitas eleições da nossa história. Recordo-me de poucas de minha infância, mas dos ataques de nervos de meu pai, ah, disso eu me lembro bem. As eleições das Diretas Já, céus! O que representava pra mim, para todos ao meu entorno. Eu amava ver meu pai envolvido, entusiasmado daquele jeito. Ele rindo, ele chorando! Lindo ver meu pai chorar. Meses depois entendia que o seu choro poderia assumir outros sentimentos. A morte de Tancredo Neves foi um luto em nossa casa. Deve também ter sido na de milhares de brasileiros.

Guardo poucas memórias da política, lembro-me mais de seus efeitos. Às vésperas de decidir o próximo presidente eu choro. Gostaria de meu pai aqui ao lado, me falando de História da sua maneira peculiar. Conversando política com os colegas rádio-amadores. Assistindo Xingú comigo nos fins de semana.

Desligo a TV, antes mesmo da propaganda acabar. Minha filha senta ao lado de mim no sofá e pergunta quem é ele apontando para a tela. Ele foi um bom homem. Teria sido nosso presidente. Onde está ele? Ele morreu. Como é o nome dele? Ele chamava-se Tancredo Neves. E eu choro com o meu pai.

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