terça-feira, setembro 07, 2010

ANDARILHA


Havia uma moça, numa pequena cidade, cuja rua onde habitava uma enorme árvore de copa imensa se avistava de uma ponta a outra do horizonte, da vista do mar à colina.
A moça, que fora um dia andarilha, pousava suas raízes nesta cidade, e como uma ave cuidadora dos filhos, saía à procura de provimentos que os mantivessem, para retornar ao fim do dia.
Mas sua felicidade era restrita a nenhum lugar. Buscava sentimentos fortes, saculejantes, nada de amenidades. À vida não resistia sem paixão. E vasculhava todo recanto, os ensolarados, na escuridão, adentrava cavernas, por uma gota deste sentimento, até que tomada dele, violentada, regressava vazia para seu ninho.
Então, profunda tristeza lhe abatia. E grande revolta lhe consumia. E dizia de si para si que não se arrependera do feito, mesmo não tendo sido o esperado. Pisava sempre em campo minado, e assim mesmo insistia.
Toda a felicidade do mundo habitava ali em sua casa. Se tivesse paciência para olhar, veria. Uma janela aberta para o dia, seus filhos, os milagres. A moça que andarilha explorou tantos lugares, nunca repousou seu coração. Deixou perdido, avoaçado, e fora do peito ela julgava que deveria estar em algum lugar, lá, muito distante, do amor que já não precisava procurar.

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