quarta-feira, agosto 25, 2010

SOB TUTELA



Abria sua caixa de mensagens todos os dias. Aguardava ávida pela próxima proposição que receberia. Havia um tempo que desejava algo que lhe despertasse semelhante sentimento. Não se tratava de amor, mas de um burilamento intelectual, próprio de quem aprecia palavras, pensamentos. Abstinha-se das drogas, dos lazeres do momento, e agora abria seu e-mail, incansavelmente, para reter um pouco de sua sabedoria. Depois, repreendeu-se. Para quê a pressa? É preciso refletir tudo isso que chega a mim. E levava as questões para o banheiro, para a cozinha, para a cama, para o trabalho, em tudo as incluía. Quanto tempo perdido, antes desse, quando era um ser autômato. Perdido? Ganho? E novamente refletia o seu pensamento. E moldando-se, remodelando-se, autoajustando-se, questionava seu remetente. Estariam sendo capciosas suas questões? Ou faria aquilo por puro prazer? Prazer de mestre que quer iniciar seu pupilo? Faria diferença ter a resposta àquelas indagações diante tantas inquietações provocadas? Continuava a abrir sua caixa de mensagens. Agora seu interlocutor tinha pasta própria, codinome, além do que adotara. Indiferente era saber de sua idade, sexualidade, religião. Era, e pronto, já, alguém que lhe conduzia a pensar, alquimista como Hermes.

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