terça-feira, agosto 31, 2010

EU, ANDORINHA



Hoje, por duas vezes, presenciei colegas emitirem duas tristes considerações feitas sobre a educação. Uma, antes de iniciada, foi interrompida, não sei se para sorte de quem iria falar ou para a minha que iria escutá-la. Mas você disse que foram feitas. Sim, eu disse, e mesmo interrompida ela existiu, velada. E eu fui “parabenizada” por conseguir sobreviver a este modelo de educação do Estado.

Muitos colegas meus não teriam “se denunciado” professores, teriam esperado que fossem ditas as verdades, para depois contestá-las. Pergunto-me por que eu não revelaria minha atuação profissional. Eu não me envergonho dela, mas do que fizeram com ela, e preocupa-me o fato de que à medida que o tempo passa a condição de educador cause vergonha aos meus colegas. Mais tarde, uma colega usou de um triste pensamento a respeito dos alunos. Que “aluno bom é aluno morto”. Putz! O que é isso?! E resolvi calar, só calar, diante os absurdos do dia.

Na última turma em que entrei hoje eu fiz um sermão. Não conheço muito da história da Bíblia. Sempre tentei lê-la, entender todas as metáforas, desejo pessoal de anos que ainda não realizei, por pura falta de disciplina. É, professor também incorre nesses equívocos do tempo... Ando ultimamente me corrigindo. E nessa última aula, em que muitos debandaram-se antes mesmo de eu dirigir-me à sala, acho que toquei o coração dos que ali ficaram. Não porque os que estavam se deixaram ficar, mas sim por cautela, precaução com as consequências de seus atos. Alguns ficaram ali, mas a mente já estava longe, bem longe daquela aula. Assim, interrompi o assunto e comecei a percorrer lentamente a sala, olhando nos olhos de um por um, e contando a história de Carol, Pedro, Rita, João, Maria, Antônio, Carlos, e tantos homens que passaram pela minha sala de aula e que hoje cruzam por mim na rua e cabisbaixos seguem para as obras de um prédio de luxo, ou para entregar água de bicicleta, ou para as lojas de shoppings em que atendem, ou para as casas onde trabalham como babás. Todos os trabalhos são dignos, entendam, lhes disse, mas até onde vocês querem chegar? Vocês visualizam alguma coisa além daquele quadro preenchido?

A conversa foi longa. As fisionomias descontraídas agora tinham uma linha franzida na testa e os olhos estavam presos aos meus. A aula acabara e eu sentia que ainda queriam me ouvir. Havia muito a ser dito por eles. E eu me pergunto por que razão “aluno morto é aluno bom”. Não há nada pior que ver olhos vitrificados de jovens em tão florida idade.

E eu lhes digo que aluno bom é aluno vivo! Vivo não da esperteza que tenta passar a perna, tirar vantagem, mas do aluno animado pelo que há de bom na vida, pelo que o impulsiona a galgar escalas evolutivas em prol de sua melhora, dos seus demais.

Dia desses me apresentei publicamente num desses eventos culturais da cidade. Recitei alguns textos meus. E lá na plateia estavam alunos de 3 anos atrás, me assistindo. Fiz o convite, foram. Alunos que tiveram um dia exaustivo de trabalho, que certamente tiveram dificuldades para chegar até o local. Bem, o fato é que foram ouvir declamações de poesias. E depois conversamos, nos confraternizamos, e eles continuavam com brilho nos olhos. Animados.

Sabe, eu quero meus alunos, meus amigos, bem vivos, acordados, que creiam em mudanças, mas que AJAM para isso porque o sistema é falho, realmente, e “uma andorinha só não faz verão”, apesar de não perder o brilho.

A vida continua.

2 comentários:

  1. Amiga... podes crer:
    "eles passarão, você passarinha" =)

    E ainda estás a passarinhar pelo mundo, não é? Passarinharás também pelo direito, pois o avesso cansa também.

    Passarinharás pelas linhas tortas que parecerão retas à tua passagem.

    Grandes beijos...

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  2. Olá Querida, Muita gentileza sua!
    Muito obrigado pela força e parabéns pelo blog belíssimo. Um abraço versejado!

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