domingo, agosto 22, 2010

APOSTANDO NA SORTE


Era pessoa despreocupada. Fácil de lidar com a vida. Do bem. Mas muito criticado. Talvez porque não se apoquentasse com as contas de energia, afinal, adorava ler à luz de velas, tinha também um lampião. A feira, que feira nada! Fome é coisa de burguês, que o capitalismo inventara. Comia quando suas reservas estavam parcas e pra quem tem amigos, pé de fruta em casa, mora em bairro arborizado, não se esquenta com isso( bem, não deveria se preocupar). O fato é que ele era uma cara primitivo e estava sempre à frente dos outros. Sua liberdade incomodava. Sabonete? Para quê? E cama e televisão?! Chegado à rede, um violão, suas noites preenchia com as melodias que a novela não tocava, não estavam na moda, coisa que ele abominava. Para seu guarda-roupa bastava-lhe apenas um par de calças jeans, duas blusas de malha, duas camisas de botão, um cinto e uma percata de couro, pra qualquer ocasião. E isso era o suficiente. Pra ser gente o importante era acordar,escovar os dentes e ter um bom livro pra ler. Trabalho, para quê? Sua casa era a garantia de uma separação sadia com a mulher com quem casara. Era boa a sua mulher... Como ela o respeitava. Sentia saudades dela. Mas sua vida era tão corrida. Dela só tinha o dinheiro na conta. E ela não o abandonara, apesar de tê-lo trocado pelos estudos, pelo trabalho, pela convenção. Tinha até religião! O pivô da malfadada separação. Ele não suportou perder sua mulher pra Deus. Deus é algo que inventaram. Era melhor ter sido corno. E por falar em chifre, costumava fazer fezinha no Bicho. Tentar a sorte. Quem sabe ganhasse?! Pra levar os amigos pra uma viagem de barco, com a mulherada. Eita, nóis!!! Hoje deu carneiro ou veado?

Um comentário:

  1. AHHH!! que eu já fui bicheito.... cotidianamente encontra-se tanta gente nesse texto... Deu até saudade da minha Avó vendo esse calendariozinho com os 25 do Bicho, ele que sempre perguntava:
    - Qual foi o bicho de hoje?

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