sábado, maio 01, 2010

LASCIVA
 
Conservou o desejo junto a álbuns de fotografias, seleta discografia, instrumentos musicais. Furtivamente mexia no baú. E lá se iam os dias...


A vida prosseguia, rotineira. Amores iam, vinham. O desejo guardado. Preservado. Represado. Regrava a cerveja. O cigarro. Aguava os temperos. Comedia os gestos. Continha a voz. Prendia os cabelos. E trazia consigo, no fundo da bolsa, uma maçã que sempre esquecia de comer.

Um dia, inexplicavelmente, cantarolou. Extasiante. Vestiu seu vestido mais leve. Perfumou-se da melhor fragrância. Soltou os cabelos. Sentou-se à mesa de um bar. Pediu uma cerveja suada. Apimentou os petiscos. Filou um cigarro do rapaz da mesa ao lado. Namorou o mar. E gerou frutos. Compulsivamente.

Brincava com o papel e a caneta. Pés descalços. Sol a queimar-lhe as costas, agora largas, medidas alteradas após gestação finda.

Se ria. Seios fartos e secos. Olhos brilhantes. Faminta vasculhou a bolsa, lambuzou a pimenta na maçã e sem modos devorou-a.

3 comentários:

  1. Texto bem palpável. Muito mais sólidos que abstratos... Interessante.

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  2. Na leitura do texto,vejo em cada linhas,palavras,um jogo do universo feminino em que a sensualidade,a meninice,o espírito de liberdade se fundem de forma harmoniosa.As idéias vão se destrichando no decorrer do enredo chegando uma bela conclusão:O bom de ser Mulher em todos os sentidos de "santa" a "diaba".Muito bom, gostei.

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  3. E gerou frutos. Compulsivamente.


    Aiii que delícia Márcia
    E essa foto então.

    Me sinto assim
    as vezes
    com o desejo de leveza
    um vestido azul
    um perfume que o vento aos poucos vai sovendo de minha pele
    o refrescar cálido do sol acarinhando meu corpo.

    e uma maça apimentada latejando no peito.

    muito bom moça!!

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